Análise: Uma Ponte para o Futuro

Análise: Uma Ponte para o Futuro

Patricia Gavazzoni

 

De volta ao passado

Com o afastamento da presidente Dilma Roussef do cargo não restam mais dúvidas de como será o governo de Michel Temer (PMDB), no documento intitulado “Uma Ponte para o Futuro” o PMDB elencou quais problemas econômicos devem ser resolvidos e que seria quase um “consenso no país”. No texto se pode identificar a escolha constante por palavras além da busca de neutralidade acerca de posicionamentos ideológicos. Ledo engano. Além disso, o texto é simples, e deixa que passem despercebidos alguns detalhes para o leitor menos atento.

Logo de início, é apresentada a necessidade de ajustes, como no trecho “sua solução [o desajuste fiscal] será muito dura para o conjunto da população, terá que conter medidas de emergência, mas principalmente reformas estruturais.”. A pergunta que fica é a seguinte: qual é o conjunto da população que sofrerá com tais ajustes? Não é muito difícil de descobrir.

Entre os temas principais apontados estão: a inflação; a crítica aos benefícios previdenciários que em poucas palavras, para eles, não podem ser vinculados ao salário mínimo, logo, pago somente à população economicamente ativa;  ampliar a idade mínima para aposentadoria, o que é um desrespeito ao trabalhador que tanto foi explorado no decorrer da sua vida profissional; a redução de juros e uma maior parceria com o setor privado. Nos programas estatais, o partido quer criar um comitê que pretende revisá-los anualmente, podendo suspendê-los ou não.

A julgar pela reação dos mercados acionários e cambial em março, parece que os agentes acreditam que a troca no comando da presidência possa ser benéfica para o Brasil. Mas será mesmo que o PMDB conduzirá o Brasil para uma política e economia menos problemáticas?

Em meio a diversos pontos que caracterizam o documento como uma cópia piorada do governo tucano, o sentimento que se tem é que “Uma Ponte para o Futuro” é na verdade uma ponte para o passado, uma máquina do tempo que traz de volta a privataria e entrega ou mesmo a liquidação do patrimônio público.

O caráter geral é o reforço dos grupos mais conservadores e reacionários do Brasil. É um documento que, caso efetivado, leva a um período anterior à Revolução de 1930 onde o quadro era o da ausência total de qualquer nível de leis que protegessem os interesses e direitos do trabalhador.

Em uma análise breve o documento é um retrocesso imenso, o plano de governo de Temer é de cunho neoliberal. Logo, o que se prega é a lógica capitalista de que “o que é favorável aos empresários é favorável à sociedade”, que só pensa em lucro e não em ganhos sociais, e isso gera a precarização das relações trabalhistas, descaso com o serviço público, por meio das terceirizações e das privatizações.

Proteção aos trabalhadores num país como o Brasil é fundamental, com um passado escravocrata, voltarmos aos anos 90 é ignorar completamente todas as conquistas da última década.

Para eles, “a globalização é o destino das economias que pretendem crescer”, mas para a sociedade, não é a saída para povos que querem se desenvolver.

Tempos difíceis estão por vir.

 

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