É extremamente preocupante a iniciativa da direção de Negócios e Sustentabilidade da Companhia Docas do Rio de Janeiro (CDRJ) que, violando o Estatuto Social e o Regimento Interno da estatal, promove o projeto denominado Water Front.
O Water Front visa apenas a especulação imobiliária no cais operacional da Gamboa, Porto do Rio de Janeiro. Não tem nenhuma demanda explícita de mercado, contraria o Plano de Negócios 2021 aprovado pelo Conselho de Administração da CDRJ, além de se sobrepor ao Plano de Desenvolvimento e Zoneamento Portuário (PDZ).
O projeto é uma repetição do que foi efetuado em alguns portos da Europa, Ásia, Argentina e Estados Unidos, que promovem áreas consideradas não mais servíveis para operação portuária em locais próprios para atividades de lazer, turismo e comércio. Situação que não é notadamente o caso do cais da Gamboa que tem plena vocação para a atividade portuária.
É importante destacar que o porto do Rio de Janeiro possui um plano de desenvolvimento denominado Porto do Século XXI, que foi concebido pelas representações portuárias dos trabalhadores, operadores, usuários, importadores, exportadores, entes públicos, inclusive pela própria CDRJ. Plano este que vem guiando a estratégia das atividades portuárias e melhorias do acesso rodoviário, ferroviário e marítimo.
Ressalto ainda que a CDRJ vem apresentando movimentação crescente no cais da Gamboa: o seu faturamento dobrou se comparado aos últimos anos, viabilizando assim os investimentos estratégicos, sobretudo na infraestrutura portuária, como meio de atração de novas cargas e a manutenção das existentes. Esses fatos demonstram que a implantação de projetos imobiliários como o Water Front, não possui espaço e não é razoável para o pretendido.
Isto fica mais claro ainda quanto sabemos que há investimentos previstos no valor de R$ 200 milhões para a recuperação e ampliação do cais da Gamboa, além de obras futuras de dragagem para atender a obrigação contratual com o terminal de Trigo do Rio de Janeiro.
Nos 1,3 km do cais da Gamboa, além da atual e importante movimentação de trigo que abastece todo o Estado do Rio de Janeiro, se desenvolvem operações portuárias de apoio a plataformas off-shore da Petrobras, ferro gusa, concentrado de zinco, calcário, produtos siderúrgicos, carga geral e muitas outras atividades que movimentam a economia não só do Rio de Janeiro, como do país.
Afora das questões de receita patrimoniais – vindas dos arrendamentos e da movimentação no cais público da Gamboa – numa rápida avaliação, devido ao perfil operacional, verifica-se o potencial de faturamento superior a R$ 100 milhões/ano, algo extremamente difícil de ser superado por empreendimentos imobiliários. De maneira especial, a atividade portuária no cais da Gamboa é um bom negócio para a CDRJ, investidores,
trabalhadores, enfim, para o povo brasileiro.
O projeto Water Front, caso efetivado, não será somente prejudicial à atividade portuária, CDRJ e investidores, mas também causará impactos negativos sociais e econômicos locais em toda região de influência do porto do Rio de Janeiro, inclusive sobre a geração de emprego e renda para aqueles que têm no porto sua atividade de trabalho.
A classe trabalhadora, através do Sindicato dos Portuários do Rio de Janeiro, declara-se veementemente contra o Projeto Water Front que foi concebido sem o diálogo com aqueles que certamente serão os mais impactados, os trabalhadores e os empresários portuários.
Sérgio Giannetto – Presidente do Sindicato dos Portuários do Rio de Janeiro