Durante a última semana o Sindicato dos Portuários do RJ esteve presente no Festival Internacional da Utopia em Maricá.
O evento que aconteceu entre os dias 22/06 a 26/06 foi marcado por uma série de debates importantes, foram cinco intensos dias de construção colaborativa da utopia possível para uma nova sociedade.
O Festival foi construído por muitas mãos, cabeças e, lógico, utopias. Desde a organização com a prefeitura de Maricá e os movimentos sociais e sindicais que há meses vêm participando da montagem da programação, convidados, convocação e estrutura do evento, aos milhares de participantes que lotaram a cidade, vindos de diversas partes do país e do mundo, muita gente participou direta ou indiretamente para fazer dar certo esse grande encontro.
Em meio a um cenário de crise política em que as representatividades estão em xeque e as decisões que fizeram a esquerda brasileira chegar até aqui são questionadas, o Festival Internacional da Utopia surgiu para unificar, consolidar, conscientizar e fortalecer a luta e talvez como um horizonte que aponte novas estratégias políticas e sociais.
Na Tenda dos Trabalhadores Carlos Manoel, organizada pela CUT/RJ, as conversas focaram nos desafios da classe trabalhadora no Brasil e no mundo contemporâneo. Já na Tenda dos Pensadores Darcy Ribeiro foram discutidos inúmeros temas: desde o papel do Estado moderno, passando pela função da militância de esquerda, até a concepção de novos valores políticos, essenciais para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. O Festival também contou com a Tenda da Diversidade que tratou sobre questões de gênero e direitos da população LGBT, colocando no centro do debate o respeito à diferença.
O prefeito da cidade de Maricá, Quaquá, abriu o evento na Tenda dos Pensadores. “O Festival da Utopia é para a gente lutar pelo impossível! Uma sociedade mais justa, onde os meios de comunicação sejam nossos e não de apenas cinco famílias como é no Brasil e na América Latina”, disse Washington Quaqua.
Ainda na abertura, Aleida Guevara, pediatra cubana e filha de Che Guevara, tratou sobre a aproximação recente entre Cuba e Estados Unidos, pontuando os dilemas e desafios da esquerda no cenário político mundial atual. De acordo com Guevara “Há uns 20 partidos que se dizem de esquerda, mas que não se unem pelos objetivos comuns. Se não juntarmos nossas forças, não venceremos nunca”. Juntamente com a pediatra participaram da mesa o dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) e economista João Pedro Stédile e o prefeito de Maricá Washington Quaquá, do Partido dos Trabalhadores (PT).
O segundo dia de festival começou muito animado na Tenda dos Pensadores. A plenária tinha como objetivo discutir o tema da Economia e convidou o político Eduardo Suplicy, que já foi vereador, deputado federal, senador e apresentou projeto que institui a Renda Básica da Cidadania em 2004. Também esteve presente Andrew Chirwa, da União dos Metalúrgicos da África do Sul, que representa a nova face da liderança sindical em seu país e um dos mais jovens líderes da classe trabalhadora.
Suplicy, sempre muito animado, iniciou o debate dizendo que toda pessoa deve ter um conjunto de direitos sociais para viver de forma plena em sua vida. Há leis que garantem isso em diversos países, inclusive no Brasil. “O programa Bolsa Família é um exemplo: toda família tem o direito de receber o benefício se a renda per capita da família não atingir uma renda mínima por mês. A ideia de instaurar a Renda Básica de Cidadania precisa ser instituída logo no Brasil, este é o meu recado para a Dilma, que inclusive merece voltar à presidência do país”, disse ele.
Já Andrew Chirwa, líder dos metalúrgicos na África do Sul, informou o cenário de caos e recessão que vive hoje o seu país, que tem uma taxa de desemprego de aproximadamente 35%. “A população economicamente ativa está sem trabalho, 50% da população vive na pobreza absoluta. O governo atual não nos deu assistência alguma, traiu a luta da população da África do Sul e o mais triste é que a democracia não foi beneficiada porque nosso governo foi capturado pela direita e pelas corporações do país”, relatou.
Segundo ele, o sistema deve ser desafiado e o mundo todo precisa se levantar contra essa divisão injusta da renda e das riquezas. “Há dinheiro no mundo suficiente para garantir a educação de cada criança hoje, mas o problema é que esse dinheiro está sendo destinado para o acúmulo de riquezas das corporações. O dinheiro não é questionado, ele deveria ser destinado para a humanidade e está sendo gasto em acordo de armas, para guerras contra o estado islâmico, gastos em aviões etc. Uma economia global capitalista que está destruindo o mundo. Matar é uma indústria lucrativa no mundo hoje”.
Um sistema alternativo econômico é necessário. Democracia é quando as pessoas tomam decisões sobre os seus destinos, todas as pessoas ou a grande maioria. Ser liderada pelo consenso de Washigton não é democracia. “Abaixar a cabeça como a classe trabalhadora vem fazendo não é democracia. Temos que estar dispostos a viver e morrer por isso. Enfrentar esse domínio oligárquico e opressor é preciso”, desabafa Andrew.
Logo após, deu-se início a mesa “Estado” com a participação da deputada federal Jandira Feghali. Se o Estado ainda precisa existir, a gente precisa trabalhar para que se expanda a democracia e os direitos. Espero que a gente consiga, em uma utopia não tão longe, superar o estado capitalista”, disse a deputada. Jandira dividiu a mesa com o paquistanês Tariq Ali, intelectual de esquerda, ativista e escritor.
Na Tenda dos Trabalhadores houve a mesa: A esquerda diante do avanço conservador na América Latina, com Paulo Vannuchi diretor do Instituto Lula, jornalista político e historiador e Lisett Conde Sanchez, deputada cubana, onde fizeram uma conjuntura da real situação que se passa o Brasil em pleno século XXI, falaram sobre o golpe que vem se constituindo no Brasil, e também a esquerda diante do avanço conservador na América Latina.
Na tenda da diversidade, Djamila Ribeiro, ativista e ícone feminista atual fala no debate Mulheres na Política: “A gente precisa refletir sobre qual é o modelo representação que a gente quer. Essa representação não pode ser a qualquer custo. Não da pra ter mulheres e negras ocupando cargos decorativos que respaldam um projeto extremamente violento.”.
O terceiro dia foi marcado pela presença especial do ator Danny Glover que é conhecido internacionalmente pelo seu ativismo político em comunidades, empenho filantrópico, defesa da justiça econômica e do acesso à saúde. À tarde as jornalistas Laura Capriglione e Bia Barbosa, discutiram a importância da democratização da comunicação na Tenda dos Trabalhadores Carlos Manoel.
No sábado aconteceu o debate O sentido da luta na conjuntura do Golpe na Tenda dos Trabalhadores, com Eduardo Suplicy e os Deputados Federais Paulo Pimenta e Wadih Damous.
Na Tenda dos Pensadores houve a cerimônia de encerramento do festival da Utopia e esteve na mesa o presidente da CUT RIO, Marcelo Rodrigues, que fez um convite. ”A Central Unica dos Trabalhadores está construindo um acampamento no Rio de Janeiro para ocupar as Olimpíadas. Nós estamos na rua e convidamos todos os que participaram dessa Utopia para estar lá conosco.”
Ao longo do quarto dia os debates focaram no tema da cultura e diversidade. A Marcha Mundial das Mulheres ofereceu uma oficina de batucada no Acampamento; no Encontro Internacional de Teatro Augusto Boal, também simultâneo ao Festival, foram realizados espetáculos e intervenções artísticas, gratuitamente, com a participação de companhias de teatro de todo o mundo, além de debates com artistas convidados. No domingo, o encerramento contou com a confraternização que reuniu uma roda de samba para todos os que estiveram presentes durante o Festival. Certamente, os cinco dias de debates, intervenções e ações políticas ficarão na memória dos cidadãos de Maricá.
Além de Beth Carvalho, os participantes do evento e população de Maricá também puderam aproveitar os shows de Emicida, Racionais MC’s, Chico César, da banda Detonautas Roque Clube e de artistas locais.
SINDICATO DOS PORTUÁRIOS: PRESENTE
O Sindicato dos Portuários do Rio de Janeiro esteve presente nos cinco dias do Festival apresentando a todos os participantes a situação atual dos portos brasileiros. Com uma tenda montada, expusemos nossas bandeiras de luta e nossos receios em relação ao governo provisório. Reafirmamos nossa posição contra as privatizações e terceirizações e levantamos nossas preocupações em relação ao sucateamento da atividade portuária. Durante o evento, enfatizamos o papel dos portos públicos para a soberania nacional e para a população brasileira.
O presidente do Sindicato dos Portuários, Sérgio Giannetto, falou sobre a importância de um evento desta magnitude. “O mais importante foi poder acompanhar as opiniões colocadas nas mesas de debate. A pluralidade de ideias expostas contribui para que possamos alcançar a plenitude da nossa democracia. Ao longo do Festival aprendemos que não devemos ter medo da utopia e que devemos, juntos, lutar por uma sociedade mais igual. Para nós, portuários e portuárias, as questões pontuadas nos debates, como o papel do Estado e a leitura do golpe de 2016, são de extrema importância para a conjuntura atual. O debate sobre o Pré-Sal, por exemplo, é muito importante e, juntamente aos portos, constitui um tema de relevância nacional, da soberania do Estado.”, disse o presidente.
Por Patricia Gavazzoni e Beatriz Bandeira
Fotos: André Luiz/ Cobertura Colaborativa
Fotos: Sindicato dos Portuários do RJ