Fazer um diagnóstico do setor portuário brasileiro e mostrar a evolução dos complexos marítimos de norte a sul. Esta foi a intenção do fotógrafo Flávio Roberto Berger ao percorrer, durante sete meses, as principais instalações do País. A expedição deu origem à 4ª edição do livro Portos e Terminais do Brasil, lançada da editora Fotoimagem no início do ano.
“Desde 2006, comecei a me dedicar exclusivamente à área portuária, com fotografias terrestres, aéreas e os livros, já na quarta edição. Comecei fornecendo imagens para empresas e revistas, mas hoje 90% do meu tempo são dedicados ao livro”, destacou o fotógrafo, que tem como assistente a esposa Vanda Cerqueira. Administradora de empresas, ela entrou de cabeça na aventura de conhecer os portos do País.
Foram sete meses de viagens e mais quatro meses para essa edição, que tem 528 páginas e 985 fotos aéreas e terrestres dos complexos. Neste período, aventuras e muito trabalho a bordo de um veículo idealizado pelos fotógrafos. Flavio e Vanda viajaram o País em um motorhome, que se tornou sua casa sobre rodas. Eles ainda têm van, que é a base operacional para seus drones. “Viajamos do Rio Grande do Sul até o Amazonas. Pegamos barcos, helicópteros, passamos por muitas aventuras”, explicou o fotógrafo.
Tudo isso para reunir, em uma publicação, informações e imagens de terminais portuários, suas instalações e equipamentos espalhados pelo Brasil. Além das fotografias, o livro traz dados técnicos como capacidades, localização, infraestrutura e telefones para contato de instalações, companhias docas e outras autoridades do setor.
Para Berger, o Porto de Santos é o mais difícil de fotografar devido as rápidas mudanças climáticas do local |
O diferencial desta edição é que os textos informativos são apresentados tanto em português como em inglês e mandarim. “As grandes empresas, principalmente de granéis, têm os chineses como clientes. Então, nada mais justo e produtivo do que ter tudo isso traduzido para o mandarim”, explicou Berger.
Além do livro, o fotógrafo já produziu uma publicação explicando termos utilizados no setor. O Glossário Portuário Ilustrado conta com 1,2 mil fotos de 430 portos ou terminais.
A ideia de produzir e publicar livros sobre o setor portuário surgiu há quase 20 anos. “Em 1998, eu não dormi uma noite inteira pensando em como seria viajar pelo Nordeste, já que em Santos deu tão certo fazer fotos sobre o Porto. Fiz um desenho de um trailler em um guardanapo de restaurante. De 2000 para 2001, mandei construir um motorhome de seis metros e fui abrir mercado”.
Evolução
Berger viu de perto as mudanças do setor portuário brasileiro. Nesta última edição, ele constatou o desenvolvimento de portos e terminais instalados nas regiões Norte e Nordeste. Em alguns casos, para alcançar os terminais, foi preciso viajar até 22 horas de barco – este é o tempo do trajeto entre Macapá (AP) e Belém (PA), onde estão sendo instalados terminais de granéis sólidos vegetais. “Em três anos, tudo ali será muito diferente e desenvolvido”.
Vista aérea do Porto de Suape (PE): fotógrafo percebeu o crescimento dos complexos do Norte e do Nordeste |
Mesmo tendo que percorrer longas distâncias, Berger acredita que esses não são os complexos portuários mais difíceis de fotografar. “Santos é o porto mais difícil de fazer foto aérea.
Você olha o tempo bom, chama uma aeronave às 11 horas e ao meio-dia fecha o tempo. É a proximidade com a Serra. O segundo porto mais complicado de fotografar é do Rio de Janeiro, por causa do o tráfego aéreo. Chegamos a fazer um boeing arremeter quando estávamos, em um helicóptero, na rota de aviões comerciais”, conta.
A próxima expedição dos fotógrafos Flávio Berger e Vanda Cerqueira já está sendo planejada. E é mais do que uma simples viagem. Para o casal, é um sonho de vida: desbravar a América do Sul e ainda conhecer o Canal do Panamá.
“É um projeto inédito, que já está no Ministério da Cultura para aprovação pela Lei Rouanet. Nele, vão entrar 50 portos de outros países da América do Sul e o Canal do Panamá. Já estamos em contato com o Itamaraty, que vai dar toda a estrutura. A ideia é mostrar a história e a atualidade dos portos”, explicou Berger.
Segundo o casal, desta vez, será usado um motorhome menor. Com estradas mais desertas e lugares desconhecidos, a estrutura precisa ser simplificada. A previsão é iniciar os trabalhos no próximo ano. As viagens devem levar 12 meses.
“Vai ser bem complicado. Primeiro porque eu não entendo a região para onde vou. Chile, Uruguai, Argentina, Bolívia, Venezuela, Guiana Francesa, Suriname, Peru e o Panamá. É complicado, não vai ser fácil porque vamos precisar de um roteiro e de uma logística muito superior. A gente não conhece as estradas, nem onde parar”, destacou o fotógrafo.
Apesar do desafio, ele terá o apoio de sua companheira de viagens e de vida. “Eu não teria uma pessoa do meu lado que não fosse guerreira. Eu sei que é uma aventura e, se fosse outra, poderia fugir na primeira semana ou depois de um dia de sol, carregando peso de câmera, entrando em helicópteros sem porta e encarando todas as aventuras”.
Vanda, que aprendeu a fotografar com o marido, já planeja cada passo da nova expedição e garante que não quer outra vida. “Conhecer o Brasil inteiro, outras culturas, não tem preço. É incrível a diferença entre as cidades. É muito legal e é isso que eu quero fazer”.
“Os amigos dizem que é tranquilo, que as estradas são maravilhosas, com paisagens de penhascos e vulcões. É um sonho, um projeto audacioso e tudo tem que ser minucioso e muito bem planejado”, afirmou o fotógrafo.
Ao final da expedição pela América do Sul, o casal pretende refazer todo o trajeto dos portos brasileiros. A ideia é atualizar constantemente as publicações sobre os complexos nacionais. “O projeto é ir de motorhome até a Venezuela, descer por Roraima até Manaus (AM), de lá pegar a balsa até Santarém (PA)e depois vai até Belém (PA) e desce até Rio Grande (RS)”, explicou Berger.