Para estatais, superministro da Economia nomeia equipe militante da privatização
O que vai ser do megaministério da Economia ainda é nebuloso. Mas o überministro Paulo Guedes deixou ainda mais claro que seu programa para as estatais é privatizá-las ou reduzi-las ao mínimo, no limite da tolerância de Jair Bolsonaro e do seu conselho militar.
Para comandar Petrobras, BNDES, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, Guedes indicou economistas que são militantes da privatização ou profissionais talhados para a eventual venda das “joias da coroa” estatal.
Note-se de passagem que, nomeados dois terços do ministério e o filé das estatais, não houve negociação de cargo com partido. Tenso.
São pessoas mais ou menos ligadas ao mundo da finança e de conselhos empresariais do Rio de Janeiro. No futuro governo ou na equipe econômica, até agora não há gente da indústria ou de São Paulo.
Além do mais, Guedes diz que seu objetivo é “salvar a indústria”, apesar dos industriais, enxugar políticas industriais e aumentar a exposição das empresas à concorrência do exterior.
Não se trata de novidade, claro. Mas tudo está sendo preparado para que não se trate apenas de planos.
Guedes não apenas tem aversão à política econômica brasileira dos últimos 50 anos, pelo menos, como tem confirmado sua intenção de promover um revertério raro no país. As últimas grandes privatizações e rodadas de abertura comercial ocorreram faz 20 anos ou mais.
Guedes tem dito que não vai abrir a economia sem mais, antes de baixar impostos para empresas.
Qualquer reforma tributária é enrolada (os planos estão quase todos parados faz também 20 anos) e, em tese, não vai entrar em pauta antes da Previdência. Logo, é difícil imaginar mesmo um começo de mudança no ano que vem.
Com as privatizações, no entanto, a conversa parece ser outra. A medula de Petrobras, BB, CEF e um novo e muito enxuto BNDES devem permanecer. Mas dezenas de empresas agregadas serão vendidas, algumas delas de grande peso no mercado.
Indicado para a CEF, Pedro Guimarães começou a carreira como analista de bancos e fez um doutorado sobre privatizações. Faz tempo é banqueiro de investimento. Preparar empresas para venda, fusões e aquisições é parte de sua profissão.
Rubem de Freitas Novaes, indicado para o Banco do Brasil, é mais consultor. Doutorado em Chicago como Guedes (da mesma geração), é um articulista militante da privatização em institutos ultraliberais. Ocupou cargos públicos no governo de João Figueiredo, no começo dos anos 1980 (foi diretor do BNDES e do Sebrae), foi economista da CNI (Confederação Nacional da Indústria) e presidente do conselho de economia da Sociedade Nacional de Agricultura.
Roberto Castello Branco, indicado para a Petrobras, foi diretor do Banco Central em 1985 e é diretor da FGV. Passou década e meia na Vale, até 2014, não na operação, mas como economista e diretor de relações com investidores (com o mercado). É mais conselheiro do que executivo de empresas.
Ora está na Invepar, de concessionárias de infraestrutura, como Guarulhos e metrô no Rio. Foi conselheiro da Petrobras no biênio 2015-2016. Faz alguns anos, escreve artigos em defesa da privatização da petroleira.
Joaquim Levy, também de Chicago, foi para o governo Dilma Rousseff 2 a fim de tocar um enxugamento do Estado, como se sabe, começando por ajuste fiscal e enxugamento do BNDES. Vai comandar o BNDES de Bolsonaro.
É uma equipe do desmanche estatal.
Fonte: Folha de S. Paulo